quarta-feira, fevereiro 20, 2008

A "SuperInteressante" história do Diabo

Hoje passei em uma banca de revistas aqui na cidade onde moro (Maia, Portugal) e acabei comprando a “Superinteressante” versão portuguesa. Há muito que relutava em comprá-la, fruto das más lembranças com a homônima brasileira.


A “Super” brasileira – lançada em 1986 (se não me engano) – era uma de minhas revistas favoritas à época. Mas nos anos noventa, sofreu uma decadência atroz. Nesta altura foi invadida por hordas de repórteres/colunistas remanescentes da revista “ShowBizz” - antiga “Bizz”, especializada em rock e esquerdismo adolescente – que, a esta altura, havia sido cancelada pela editora Abril. A trajetória da “Super” a partir daí foi decadente: matérias cada vez mais panfletárias, anti-americanas, multi-culturais e politicamente corretas. Enfim, nada que ver com conhecimento “científico”. Nunca mais comprei um só exemplar desta fábrica de idiotia.


Pois bem, a matéria de capa fisgou-me: “A Vida e a Obra de Satanás”. “Bah, se fosse na edição brasileira..” pensei, “teria muitos adjetivos nada abonadores sobre a Igreja Católica, especialmente sobre a Inquisição”.

Pois o resultado vai muito além do que eu esperava: é muito mais informativa e precisa. E não têm “ avaliações” ou “opiniões” dos editores. Vai ao ponto. E traz de quebra informações elucidativas. Com isso chega-se à conclusão que no Brasil tudo, mas tudo mesmo, acaba sendo influenciado pelo viés esquerdista, até revista científica. Compare este trecho com alguma edição brasileira da mesma revista.

O Protetor dos Bruxos (extraído da Super Interessante, edição 118 – página 27)


O Inquisidor Alonso Salazar de Frías foi responsável por um feito crucial na história da bruxaria. Em 1610 (estava Portugal sob a coroa de Castela), os juízes seculares de Logroño decidiram lançar uma ofensiva em regra contra o Diabo. Não tiveram dificuldade em localizar as vítimas, que obrigavam a confessar e, depois, condenavam à fogueira. A Inquisição, pouco inclinada a ver questionada a sua autoridade em assuntos religiosos, enviou os seus sicários, que, contagiados pelos juízes, descobriram 280 adultos e crianças que adoravam o Diabo.

As coisas começaram a mudar em Maio de 1611, quando a Inquisição ordenou Frías para fazer cumprir o édito segundo o qual os bruxos que confessassem podiam livrar-se da fogueira. O inquisidor interrogou 1802 bruxos, dos quais 1384 eram crianças com idades entre os 12 e os 14 anos. O relatório, que ocupa 5000 folhas, concluía: `Não encontrou nem um único indício do qual se possa deduzir que foi cometido qualquer ato de bruxaria, nem que tenham assistido a conciliábulos de bruxos ou participado neles, nem inflingido danos ou qualquer outra coisa. As provas não são suficientes para justificar o encarceramento.´

Graças a Frías, Espanha e Portugal não conheceram a terrível repressão que se verificou no resto da Europa”.



(Nota: Há de se separar a Inquisição Espanhola do período dos Reis Católicos , sob o comando de Torquemada (1480-98) - cujo fim era sumamente político e voltado à perseguição aos judeus -, com o período posterior (1600) , o da contra-reforma, em que a temporada de caça às bruxas imperou da França até a Alemanha, com suas fogueiras ardentes.


Para terminar, um aperitivo da próxima edição...


Uma Lenda Alimentada Pela Fé

A Reforma e, principalmente, a Contra-Reforma deram origem ao lançamento de alegações de crueldade por parte das Inquisições portuguesa e espanhola, o que está longe de ter sido provado pelos historiadores”


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